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Rui Pedro Jorge
Tempos de Poeira
Galeria 111, Lisboa
from 2 of June till 31 of July 2012




Exhibition Views
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Some of the works on show
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Horizonte. 2011
Óleo sobre tela. 200x 288cm 



Encena. 2011
Óleo sobre tela. 200x 288cm 





La sandia y el puto Jeffe. 2011
Óleo sobre tela. 200x 200cm 




A/manhã. 2011
Óleo sobre tela. 130x 190cm 




 Sonhar de novo. 2012.
Acrilico sobre tela. 180x 150cm 



Antes das flores.  2010/12
 Técnica mista sobre tela. 146x 114cm 



Parquet . 2012.
Acrilico sobre tela. 41x 33,5cm 




Parquet? . 2012.
Acrilico sobre tela. 41x 33,5cm 





MDF filho da mãe. 2012
 Acrilico sobre tela. 50,5x 38cm





Pensar por imagens
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A primeira pintura que vi de Rui Pedro Jorge tinha 30x30 cm e a segunda 200x288 cm. Em ambas, um vazio no centro que parecia atrair-me como uma porta.
Mais tarde viria a encontrar no seu lugar certas construções, barracas sem janelas, cujas portas é impossível abrir ou servem de parede, de teto ou simplesmente não existem. Ou então barracas cujas paredes estão incompletas e, talvez por isso, foram cuidadosamente protegidas por cubos de vidro – como os que encontramos nos museus a proteger as peças mais frágeis. Ou ainda, por fim, construções tão abstratas (e tão imponentes) como as que seria possível construir num jogo de crianças. Frequentemente, uma árvore as habita. Uma árvore que espreita de dentro destas casas abertas na paisagem, elas próprias uma paisagem. Ou apenas ramos; afinal talvez esta árvore esteja morta.


O terceiro elemento é o universo, o cosmos. Não é somente a casa aberta que se comunica com a paisagem, por uma janela ou um espelho, mas a casa mais fechada está aberta sobre um universo. A casa de Monet se vê sempre aspirada pelas forças vegetais de um jardim incontrolável, cosmo das rosas. Um universo-cosmos não é carne. Nem mesmo plano, pedaços de planos que se juntam, planos diversamente orientados, embora a junção de todos os planos até o infinito possa constituí-lo. Mas o universo se apresenta, no limite, como o fundo da tela, o único grande plano, o vazio colorido, o infinito monocromático. A porta-janela, como em Matisse, só se abre sobre um fundo negro. A carne, ou antes a figura, não mais é o habitante do lugar, da casa, mas o habitante de um universo que suporta a casa (devir). É como uma passagem do finito ao infinito, mas também do território à desterritorialização.

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Estes objetos escultóricos que ocupam o centro de algumas das obras de Rui Pedro Jorge, não representam contudo formas impassíveis de engenharia matemática. A sua instabilidade e o seu caráter manipulador denunciam a organicidade constitutiva daquilo que é propriamente humano.

Barracas, ninhos, barcos, de pau, de cimento, de tijolos, são expostos no seu improviso, provisórios e instáveis, porque tal como refere o artista, «o sítio onde estamos está sempre a cair». Encontramos aqui sombras que revelam abismos e abrigos construídos sobre o vazio. Para que servem estes abrigos? Talvez para proteger uma geração (a sua) das fraudes que permeiam as suas relações com o mundo e com os outros. Crescer com imagens, entre a ficção e o real. Rui Pedro Jorge tem 14 anos quando vê as Torres Gémeas cair no telejornal, as pessoas a despenharem-se voluntariamente. Uma geração consciente de que os contextos de apresentação das imagens estão invariavelmente carregados de poder, basta pensarmos nas imagens que se dirigem a crianças. A forma como as imagens são apresentadas em cada época confere-lhes o seu valor, ou seja, confere-lhes a qualidade da sua extensão e a envergadura da sua penetração. A imediatez deste processo de formatação, regido pelas tendências de cada época, é aqui continuamente exposto, denunciado e por vezes, interrogado.

Assim é que o artista irá a certa altura isolar os materiais que usa na sua pintura: um pedaço de madeira (de uma barraca?); a copa de uma árvore que flutua no céu; o anel de um tronco (um ramo arrancado?). Porventura a beleza nos encontra neste vazio, como uma explosão. São representações muito gráficas, de onde ressalta o ambiente que se gera em redor dos objetos. Poderá ainda assim a beleza ser uma ficção?
Mas não são apenas ilusões de ótica que encontramos na pintura de Rui Pedro Jorge. A repetição destes elementos estranhos na paisagem refere-se também a um caminho que só pode ser percorrido em plena natureza, onde o mundo e as pessoas se refletem. Numa nave espacial que é também uma caravela, ou num horizonte, este abandono dado (ou encontrado) às coisas, reveste-se de uma manifestação quase diáfana, ou pelo menos sublimada. Não há necessariamente uma explicação para isso.
Uma coisa é certa: esta sublimação provém de uma incerteza permanente implicada no trabalho. «Por vezes fazem parte do trabalho coisas que são abandonadas no processo criativo mas que deixaram a sua marca», refere o artista. Não sem auto-censura, há nestes trabalhos uma busca com alguma desmesura, algum excesso, alguma temeridade. Precipícios onde esperamos continuamente não cair, afinal, «o que é que andamos todos aqui a fazer?»


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DELEUZE, Giles, GUATTARI, Felix, O que é a Filosofia?, Tradução Bento  Prado Jr. e Alberto Alonso Munoz; Coleção TRANS; Editora !34, p. 75; 
http://pt.scribd.com/doc/6985818/Gilles-Deleuze-Felix-Guattari-O-QUE-E-FILOSOFIA











Marta Rema